quarta-feira, 5 de novembro de 2008

3-


Camila foi a mulher com quem namorei mais tempo. Ficamos oito anos juntos. Tudo começou em 1991, tínhamos 19 anos. Eu me entreguei totalmente, não fui racional. No início, nossa relação era infantil, nós dois éramos possessivos. Confesso que eu a deixava sufocada. Ela também reclamava de tudo. Mas o sexo era ótimo e tinha amor.
No quarto ano de namoro, decidimos morar juntos. No sétimo, estávamos em crise. Foi nesse período que ela apareceu com uma nova amiga que tinha uma vida estável, apartamento, carro, enfim, tudo o que Camila me cobrava. Aquilo me incomodava, eu sentia ciúme. Nossa relação estava péssima, a gente nem se beijava mais. Eu saí de casa, mas continuamos namorando. Uma noite Camila me ligou, disse que me amava, que queria comprar alianças, casar. Dois dias depois, sugeriu que ficássemos um tempo separados. Disse que queria repensar algumas coisas e que eu não a deixava ter amigos. Em seguida, desapareceu. Eu pirei, ela não queria mais falar comigo e eu não entendia o motivo.
Encontrei o marido de uma amiga em comum e ele me contou que, dois anos antes, a Camila tinha tentado ficar com ele. E que agora estava com outra pessoa. Fiquei louco. Mas o pior foi descobrir que ela estava namorando a tal amiga inseparável. Meu mundo veio abaixo. É difícil imaginar que uma pessoa que conviveu comigo tanto tempo de repente se apaixona por uma mulher. Eu andava desconfiado, mas não era nada concreto. Quando tive certeza, deu uma dor imensa no coração, senti raiva, ódio mortal. Liguei na hora para ela, mas ela não estava. Fui para a casa, coloquei uma música e fiquei berrando, aos prantos. Me perguntava por que isso tinha de acontecer comigo. Chorei muito e, quando me senti mais aliviado, procurei uns amigos e contei tudo. Não me contive e telefonei para a casa da amante. Camila estava lá e mandou eu não me meter em sua vida. Eu falei para ela não procurar mais ninguém da minha família nem meus amigos e, movido por um sentimento de vingança, ameacei contar para sua avó que ela era lésbica.
Mas a família dela, que sempre foi muito careta, aceitou o romance das duas e eu me senti duplamente traído. O que me deixou mais bravo foi achar que ela arquitetou tudo friamente, sem consideração pelos meus sentimentos. Fiquei perdido, cada hora eu pensava numa coisa. Primeiro, 'planejava' a morte de Camila e de toda a sua família. Cheguei a pensar em chamar uns caras barras pesadas para dar uma surra em todos. Virei um animal, não conseguia raciocinar. Depois que essa loucura passou, não conseguia dormir nem comer direito, emagreci três quilos. No começo eu tinha vergonha de tocar nesse assunto, mas meu irmão me dizia para eu ter coragem. Meus amigos me ajudaram, nunca brincaram com isso. Em dois meses, apareceu uma oportunidade de mudar de cidade e dei graças a Deus, era uma maneira de recomeçar a vida. Eu precisava respirar.
Minhas relações com mulheres ficaram problemáticas e ainda hoje, dois anos depois, são complicadas. Demorei quase um ano para sentir tesão por outra pessoa e não tenho orgasmo se não estiver sentimentalmente envolvido. Ainda tenho mágoa. Hoje estou mais cauteloso e exigente. Sei exatamente os defeitos que posso aceitar em uma mulher e não tolero mentiras."

Rodrigo, 30 anos, fotógrafo


Nenhum comentário:

Postar um comentário