quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Menino

A criação deste Blog foi uma proposta literária feita pelo professor Diêgo Alcântara, com objetivo de estimular a reflexão e a busca

de um novo ponto de vista em relação aos problemas corriqueiros.

Por sorteio em sala de aula, nossa equipe, composta por 12 componentes,tais eles identificados no final do blog, ficou encarregada de tratar do conto O Menino, de Lygia Fagundes Telles.

Sobre a autora:

Nome:
Lygia Fagundes Telles

Nascimento:
19/04/1923

Natural:
São Paulo - SP

Autora bastante premiada, membro da Academia Brasileira de Letras.

Ao escrever Venha Ver o Pôr do Sol, Lygia Fagundes Telles, provavelmente, inspirou-se na obra de Edgar Allan Poe, conduta bastante comum para os que se exercitam no gênero conto de mistério. O conto de Lygia remete a O Barril de Amontillado, de Poe.Ambos os contos têm a vingança como tema e estruturam-se por meio dos diálogos das personagens. O tipo de narrador, entretanto, é diferente, o da obra de Poe é autodiegético.

Conto O Menino


Sentou-se num tamborete, fincou os cotovelos nos joelhos, apoiou o queixo nas mãos e ficou olhando para a mãe. Agora ela escovava os cabelos muito louros e curtos, puxando-os para trás. E os anéis se estendiam molemente para em seguida voltarem a posição anterior, formando uma coroa de caracóis sobre a testa. Deixou a escova, apanhou um frasco de perfume, molhou as pontas dos dedos, passou-os nos lóbulos das orelhas, no vértice do decote e em seguida umedeceu um lencinho de rendas. Através do espelho olhou para o menino. Ele sorriu também, era linda, linda, linda! Em todo o bairro não havia uma moça tão linda assim.
─ Quantos anos você tem mamãe?
─ Ah, que pergunta! Acho que trinta ou trinta e um, por aí, meu amor, por aí. Quer se perfumar também?
─ Homem não bota perfume.
─ Homem, homem! ─ Ela inclinou-se para beijá-lo. ─ Você é um nenenzinho, ouviu bem? É o meu nenenzinho.
O menino afundou a cabeça no colo perfumado. Quando não havia ninguém olhando, achava maravilhoso ser afagado como uma criançinha. Mas era preciso mesmo que não houvesse ninguém por perto.
─ Agora vamos que a sessão começa às oito ─ Avisou ela, retocando apressadamente os lábios.
O menino deu um grito, montou no corrimão da escada e foi esperá-la embaixo. Da porta, ouviu-a dizer à empregada que avisasse ao doutor que tinha ido ao cinema.
Na rua, ele andava pisando forte, o queixo erguido, os olhos acesos. Tão bom sair de mãos dadas com a mãe. Melhor ainda quando o pai não ia junto porque assim ficava sendo o cavalheiro dela. Quando crescesse haveria de se casar com uma moça igual. Anita não servia que Anita era sardenta. Nem Maria Inês com aqueles dentes saltados. Tinha que ser igualzinha à mãe.
─ Você acha a Maria Inês bonita, mamãe?
─ É bonitinha, sim.
─ Ah! Tem dentão de elefante.
E o menino chutou um pedregulho. Não, tinha que ser assim como a mãe, igualzinha à mãe e com aquele perfume.
─ Como é o nome do seu perfume?
─ Vent vert. Por quê, filho? Você acha bom?
─ Vento verde.
Vento verde, vento verde. Era bonito, mas existia vento verde? Vento não tinha cor, só cheiro. Riu.
─ Posso te contar uma anedota, mãe? Posso?
─ Se for anedota limpa, pode.
─ Não é limpa não.
─ Então não quero saber.
─ Mas por quê, pô!?
─ Eu já disse que não quero que você diga Pô.
Ele chutou uma caixa de fósforos. Pisou-a em seguida.
─ Olha, mãe, a casa do Júlio...
Júlio conversava com alguns colegas no portão. O menino fez questão de cumprimentá-los em voz alta para que todos se voltassem e ficassem assim mudos, olhando. Vejam, esta é minha mãe! ─ Teve vontade de gritar-lhes. Nenhum de vocês tem uma mãe linda assim! E lembrou deliciado que a mãe de Júlio era grandalhona e sem graça, sempre de chinelo e consertando meia. Júlio devia estar agora roxo de inveja.
─ Ele é bom aluno? Esse Júlio?
─ Que nem eu.
─ Então não é.
O menino deu uma risadinha.
─ Que fita a gente vai ver?
─ Não sei, meu bem.
─ Você não viu no jornal? Se for fita de amor, eu não quero! Você não viu no jornal, hein, mamãe?
Ela não respondeu. Andava agora tão rapidamente que às vezes o menino precisava andar aos pulos para acompanhá-la. Quando chegaram à porta do cinema, ele arfava. Mas tinha no rosto uma vermelhidão feliz.
A sala de espera estava vazia. Ela comprou os ingressos e em seguida, como se tivesse perdido toda pressa, ficou tranqüilamente encostada a uma coluna, lendo o programa. O menino deu-lhe um puxão na saia.
─ Mãe, mas o que é que você está fazendo?! A sessão já começou, já entrou todo mundo, Pô!
Ela inclinou-se para ele. Falou num tom muito suave, mas os lábios se apertavam comprimindo as palavras e os olhos tinham aquela expressão que o menino conhecia muito bem, nunca se exaltava, nunca elevava a voz. Mas ele sabia que quando ela falava assim, nem súplicas nem lágrimas conseguia fazê-la voltar atrás.
─ Sei que já começou, mas não vamos entrar agora, ouviu? Não vamos entrar agora, espera.
O menino enfiou as mãos nos bolsos e enterrou o queixo no peito. Lançou à mãe um olhar sombrio. Por que é que não entravam logo? Tinham corrido feito dois loucos e agora aquela calma, espera. Espera o que, pô?!...
─ É que a gente já está atrasado, mãe.
─ vá ali no balcão comprar chocolate ─ Ordenou ela entregando-lhe uma nota nervosamente amarfanhada.
Ele atravessou a sala num andar arrastado, chutando as pontas de cigarro pela frente. Ora, chocolate. Quem é que quer chocolate? E se o enredo fosse de crime, quem é que ia entender chegando assim começado? Sem nenhum entusiasmo, pediu um tablete de chocolate. Vacilou um instante e pediu em seguida um tubo de drágeas de limão e um pacote de caramelos de leite, pronto, também gastava à beça. Recebeu o troco de cara fechada. Ouviu então os passos apressados da mãe que lhe estendeu a mão com impaciência: ─ Vamos, meus bem, vamos entrar.
Num salto, o menino pôs-se ao lado dela. Apertou-lhe a mão freneticamente.
─ Depressa que a fita já começou, não está ouvindo a música?
─ Na escuridão, ficaram um instante parados, envolvidos por um grupo de pessoas, algumas entrando, outras saindo. Foi quando ela resolveu.
─ Venha vindo atrás de mim.
Os olhos do menino devassavam a penumbra. Apontou para duas poltronas vazias.
─ Lá, mãezinha, lá tem duas, vamos lá!
Ela olhava para um lado, para outro e não se decidia.
─ Mãe, aqui tem mais duas, está vendo? Aqui não está bom? ─ Insistiu ele, puxado-a pelo braço e olhava aflito para a tela e olhava de novo para as poltronas vazias que apareciam aqui e ali como coágulos de sombra. ─ Lá tem mais duas, está vendo?
Ela adiantou-se até as primeiras filas e voltou em seguida até o meio do corredor. Vacilou ainda um momento. E decidiu-se. Impeliu-o suave, mas resolutamente.
─ Entre ai.
─ Licença? Licença?... ─Ele foi pedindo. Sentou-se na primeira poltrona desocupada que encontrou, ao lado de uma desocupada também. ─ Aqui, não é, mãe?
─ Não, meu bem, ali adiante ─ murmurou ela, fazendo-o levantar-se. Indicou os três lugares vagos quase no fim da fileira.
─ Lá é melhor.
Ele resmungou, pediu “Licença, licença?”, e deixou-se cair pesadamente no primeiro dos três lugares. Ela sentou-se em seguida.
─ Ih, é fita de amor, pô!
─ Quieto, sim?
O menino pôs-se na beirada da poltrona. Esticou o pescoço, olhou para a direita, para a esquerda, remexeu-se:
─ Essa bruta cabeçona ai na frente!
─ Quieto, já disse.
─ Mas é que não estou enxergando direito, mãe! Troca comigo que não estou enxergando!
Ela apertou-lhe o braço. Esse gesto ele conhecia bem e significava apenas: Não insista!
─ Mas, mãe...
Inclinando-se até ele, ela falou-lhe baixinho, naquele tom perigoso, meio entre os dentes e que era usando quando estava no auge, um tom tão macio que quem a ouvisse julgaria que ela Le fazia um elogio. Mas só ele sabia o que havia debaixo daquela maciez.
─ Não quero que mude de lugar, está me escutando? Não quero. E não insista mais.
Contendo-se para não dar um forte pontapé na poltrona da frente, Ele enrolou o pulôver como uma bola e sentou-se em cima. Gemeu. Mas por que aquilo tudo? Por que a mãe lhe falava daquele jeito, por quê? Não fizera nada de mal, só queria mudar de lugar, só isso...Não, desta vez ela não estava sendo um pouquinho camarada. Voltou-se então para lembrar-lhe de que estava chegando muita gente, se não mudasse de lugar imediatamente, depois não poderia mais porque aquele era o ultimo lugar vago que restava, “olha aí, mamãe, acho que aquele homem vem pra cá! “Veio. Veio sentou-se na poltrona vazia ao lado dela.
O menino gemeu, “Ai” meu Deus... ”Pronto. Agora é que não haveria mesmo nenhuma esperança. E aqueles dois enjoados lá na fita conversando comprida que não acabava mais, ela vestida de enfermeira, ele de soldado, mas por que o tipo não ia pra guerra, pô!... E a cabeçona da mulher na sua frente indo e vindo para esquerda, para direita, os cabelos armados a flutuarem na tela como teias monstruosas e uma aranha. Um punhado de fios formava um frouxo topete que chegava até o queixo da artista. O menino deu uma gargalhada.
─ Mãe, daqui eu vejo a mocinha de cavanhaque!
─ Não faça assim, filho, a fita é triste... Olha, presta atenção agora ele vai ter que fugir com outro nome... O padre vai arrumar o passaporte.
─ Mas por que ele não vai pra guerra duma vez?
─ Porque ele é contra a guerra, filho, ele não quer matar ninguém ─ sussurrou-lhe a mãe num tom meigo. Devia estar sorrindo e ele sorriu também, ah! Que bom, a mãe não estava mais nervosa, não estava mais nervosa! As coisas começavam a melhorar e para maior alegria, a mulher da poltrona da frente levantou-se e saiu. Diante dos seus olhos apareceu o retângulo inteiro da tela.
─ Agora sim! ─ disse baixinho, desembrulhando o tablete de chocolate. Meteu-o inteiro na boca tirou os caramelos do bolso para oferecê-los à mãe. Então viu: a mãe pequena e branca, muito branca, deslizou pelo braço da poltrona e pousou devagarinho nos joelhos do homem que acabara de chegar.
O menino continuou olhando, imóvel. Pasmado. Por que a mãe fazia aquilo? Por que a mãe fazia aquilo?!... Ficou olhando sem nenhum pensamento, sem nenhum gesto. Foi então que as mãos grandes e morenas do homem tomaram avidamente a mão pequena e branca. Apertaram-na com tanta força que pareciam esmagá-la.
O menino estremeceu. Sentiu o coração bater descompassado, bater como só batera naquele dia na fazenda quando teve de correr como louco, perseguido de perto por um touro. O susto ressecou-lhe a boca. O chocolate foi-se transformando numa massa viscosa e amarga. Engoliu-o com esforço, como se fosse uma bola de papel. Redondos e estáticos, os olhos cravaram-se na tela. Moviam-se as imagens sem sentido num sonho fragmentado. Os letreiros dançavam e se fundiam pesadamente, como chumbo derretido. Um bar esfumaçado, brigas,a fuga do moço de capa perseguido pela sereia da policia, mais brigas numa esquina, tiros. A mão pequena e branca a deslizar no escuro como um bicho. Torturas e gritos nos corredores paralelos da prisão, os homens. A mão pequena e branca. A fuga, os faróis na noite, os gritos, mais tiros, tiros. O carro derrapando sem freios. Tiros. Espantosamente nítido em meio do fervilhar dos sons e falas ─ e ele não queria, não queria ouvir! ─ o ciciar delicado dos dois num dialogo entre os dentes.
Antes de terminar a sessão ─, mas isso não acaba mais, não acaba? ─, ele sentiu, mais do que sentiu, adivinhou a mão pequena e branca desprender-se das mãos morenas. E do mesmo modo manso como avançara recuar deslizando pela poltrona e voltar a se unir à mãe que ficara descansando no regaço. Ali ficaram entrelaçadas e quietas como estiveram antes.
─ esta gostando, meu bem? ─ perguntou ela, inclinando-se para o menino.
Ele fez que sim com a cabeça, os olhos duramente fixos na cena final. Abriu a boca quando o moço também abriu a sua para beijar a enfermeira. Apertou os olhos enquanto durou o beijo. Então o homem levantou-se embuçado na mesma escuridão em que chegara. O menino retesou-se, os maxilares contraídos, tremulo. Fechou os punhos. “ Eu pulo no pescoço dele, eu esgano ele! “
O olhar desvairado estava agora nas espáduas largas interceptando a tela como um muro negro. Por um brevíssimo instante ficaram paradas na sua frente. Próximas, tão próximas. Sentiu a perna musculosa do homem roçar no seu joelho, esgueirando-se rápida. Aquele contato foi como ponta de um alfinete num balão de ar. O menino foi-se descontraindo. Encolheu-se murcho no fundo da poltrona e pendeu a cabeça para o peito.
Quando as luzes se acenderam, teve um olhar para a poltrona vazia. Olhou para a mãe. Ela sorria com aquela mesma expressão que tivera diante do espelho, enquanto se perfumava. Estava corada, brilhante.
─ Vamos, filhote?
Estremeceu quando a mãe dela pousou no seu ombro. Sentiu-lhe o perfume. E voltou depressa a cabeça para o outro lado, a cara pálida, a boca apertada como se fosse cuspir. Engoliu penosamente. De assalto, a mãe dela agarrou a sua. Sentiu-a mas, macia. Endureceu as pontas dos dedos, retesado, queria cravar as unhas naquela carne.
─ Ah, não quer mais andar de mãos dadas comigo?
Ele inclinara-se, demorando mais do que o necessário para dobrar a barra da calça rancheira.
─ É que não sou mais criança.
─ Ah, o nenenzinho cresceu? Cresceu? ─ Ela riu baixinho. Beijou-lhe o rosto. ─ Não anda mais de mão dada ?
O menino esfregou as pontas dos dedos na umidade dos beijos no, na orelha. Limpou as marcas com a mesma expressão com que limpava as mãos nos fundilhos da calça quando cortava as minhocas para o anzol.
Na caminhada de volta, ela falou sem parar, comentando excitada o enredo do filme. Ele respondia por monossílabo.
─ Mas que é que você tem filho? Ficou mudo...
─ Está me doendo o dente.
─ Outra vez? Quer dizer que fugiu do dentista? Você tinha hora ontem, não tinha?
─ Ele botou uma massa. Esta doendo ─ murmurou inclinando-se para apanhar uma folha seca. Triturou-a no fundo do bolso. E respirou abrindo a boca. ─ Como dói, pô.
─ Assim que chegarmos você toma uma aspirina. Mas não diga, por favor, essa palavrinha que detesto.
─ Dona Margarida.
─ Hum?
─ A mãe do Júlio.
Quando entraram na sala, o pai estava sentado na cadeira de balanço, lendo jornal. Como todas as noites, como todas as noites. O menino estacou na porta. A certeza de que alguma coisa terrível ia acontecer ia paralisou-o atônito, obumbrado. O olhar em pânico procurou as mãos do pai.
─ Então, meu amor, lendo o seu jornalzinho? ─ perguntou ela, beijando o homem na face. ─ Mas a luz não está muito fraca?
─ A lâmpada maior queimou, liguei essa por enquanto ─ disse ele, tomando a mãe da mulher. Beijou-a demoradamente. V Tudo bem?
─ Tudo bem.
O menino mordeu o lábio até sentir gosto de sangue na boca. Como nas outras noites, igual. Igual.
─ Então, filho? Gostou da fita? ─ perguntou o pai dobrando o jornal. Estendeu a mão ao menino e com a outra começou a acariciar o braço nu da mulher. ─ Pela sua cara, desconfio que não.
─ Gostei, sim.
─ Ah, confessa, filhote, você detestou, não foi? ─ contestou ela.
─ Nem eu entendi direito, uma complicação dos diabos, espionagem, guerra, máfia... Você não podia ter entendido.
─ Entendi. Entendi tudo ─ ele quis gritar e a voz não saiu num sopro tão débil que só ele ouviu.
─ E ainda com dor de dente! ─ acrescentou ela desprendendo-se do homem e subindo a escada. V Ah, já ia esquecendo a aspirina!
O menino voltou para a escada os olhos cheios de lagrimas.
─ Que é isso? ─ estranhou o pai. ─ Parece até que você viu assombração. Que foi?
O menino encarou-o demoradamente. Aquele era o pai. O pai. Os cabelos grisalhos. Os óculos pesados. O rosto feio e bom.
─ Pai... ─ murmurou, aproximando-se. E repetiu num fio de voz: ─ Pai...
─ Mas meu filho, que aconteceu? Vamos, diga!
─ Nada. Nada.
Fechou os olhos para prender as lágrimas. Envolveu o pai num apertado abraço.

Síntese do conto:

Este conto está inserido na obra Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Telles.
Neste conto,escrito em 1949, os fatos da história desenvolvem-se em um período de algumas horas – que englobam os preparativos para o passeio, a caminhada até o cinema, duas horas para a projeção do filme (tempo presumido de duração de uma sessão), e o retorno, a pé, para a casa das personagens. Com o título, imaginamos que a história irá se desenvolver em cima da infância de um garoto, mas, com o desfecho da história, percebe-se que não é bem assim. Apesar do menino ser o protagonista da história, o tema principal do conto não é infantil, sendo uma pista falsa o título.Os personagens principais, a mãe e o menino,não apresentam nome próprio.
No primeiro momento do conto o tom da narrativa é leve, solto, alegre,uma noite de entretenimento.
As personagens vão sendo construídas ao longo da história, por meio dos elementos internos e externos de cada uma, fornecidos pelo narrador. Sabe-se, por exemplo, que a mãe é uma mulher de trinta e poucos anos, bonita, vaidosa. Ela é caracterizada por elementos externos – “cabelos muito louros e curtos”, cujos anéis formam uma “coroa de caracóis sobre a testa” (p. 109). A figura da coroa está ligada à imagem de rainha; o louro dos cabelos reforça esta idéia.
O menino admira a mãe como se ela fosse uma rainha, figura detentora de força e poder. Para o menino, a mãe é perfeição em pessoa.
Levando-se em conta o papel destinado a mulher naquela época, ela pode ser considerada como uma rainha do lar.
A família apresentada por Lygia Fagundes Telles neste conto é constituída pelo pai – referido como “doutor” –, o “chefe de família” que passa o dia trabalhando e volta à noite para o lar; a mãe, jovem e bonita, a “rainha do lar”, e um único filho (o que era típico das famílias de classe média da época). Na casa trabalha uma empregada doméstica. O cenário é urbano.
Com relação ao menino, percebe-se que está radiante pelo passeio que fará com a mãe, a quem admira principalmente pela beleza física. Durante a caminhada até o cinema, o menino sente-se orgulhoso por estar ao lado da mãe, quer exibi-la aos colegas.A ambigüidade de sentimentos dele em relação à mãe fica explícita. O menino deseja a mãe como mulher e quer ser o homem dela, como fica evidente nos trechos em que é empregado o discurso indireto livre.
Ao chegar ao cinema, a mãe passa a se comportar de forma estranha, incompreensível.
O clima entre os dois muda, torna-se tenso. É interessante observar que o menino acredita conhecer a mãe muito bem, o que transparece nas expressões “os olhos tinham aquela expressão que o menino conhecia muito bem”; “Mas ele sabia que quando ela falava assim" .
Em certo momento,corre o impacto da descoberta.O menino ao descobrir 'tudo', sente vontade de enfrentá-lo. Ao chegar em casa, vê o pai, mais nada acontece!
O conto O Menino pode ser considerado uma narrativa de aprendizagem. O protagonista passa por uma experiência dolorosa, que faz com que perca a inocência típica da criança e, além disso, veja ruir a imagem da mãe, o ídolo que adorara até então. O início do amadurecimento é acompanhado pela necessidade de também aprender a usar as máscaras sociais que todos usam, no dia a dia: assim, o menino omite os acontecimentos, não os revela para o pai.Começa a haver uma identificação do menino com a figura paterna.
Conforme acenado, apesar do protagonista ser uma criança, a temática principal do conto é um tema adulto, ou seja, a traição, mais especificamente, o adultério feminino. É necessário ter em mente a época em que o conto O Menino foi escrito (1949).
Outro aspecto que deve ser destacado é que em O Menino não há julgamentos, nem castigos impostos à personagem adúltera. A mulher mantém um encontro clandestino, tendo o filho como testemunha e álibi, e volta para casa, para o casamento estável que lhe proporciona uma vida segura e confortável. A única coisa que precisa fazer é recolocar as máscaras de boa esposa, boa mãe, boa dona de casa, representar os papéis sociais que esperam dela.
No conto, Lygia faz uma crítica à hipocrisia da sociedade.
" Menino é um conto simples, que trata de um assunto corriqueiro. "

Adultério

Trair é violar a confiança produzindo conflitos morais e psicológicos. Trair significa descumprir com o compromisso assumido. Segundo a lei, trair é crime de deslealdade de um cidadão com sua pátria, mas socialmente falando, traição é sinônimo de adultério.

Mas será só isso? Não concordo. Existe traição entre pais e filhos, entre amigos, colegas de trabalho, sócios, entre empresas.

Porém nada é mais forte do que a traição do amado, o adultério. Pior ainda o julgamento quando é a mulher que trai.

Pesquisando, descobri que são vários os tipos e motivações que envolvem uma traição.

Infelizmente, para nós mulheres, os homens costumam cometê-las com mais freqüência do que pensamos.

Existe a traição ocasionada por um fato fortuito, sem envolvimento afetivo, ocasionado apenas pela oportunidade.

Nada vai representar na vida dele, e ele volta para você apaixonado como se nada tivesse acontecido.

E, na cabeça dele, nada aconteceu mesmo.

Há os que traem aqui e acolá, repetidamente, mas sempre voltam para suas mulheres. Na cabeça deles, desde que não se apaixonem não há o menor problema, é só mais uma “pulada de cerca”.

Grande reflexo de anos e anos de machismo e de mulheres donas de casa.

Mas, quando acontece o envolvimento emocional tudo fica mais difícil. Aí vem o conflito de querer manter os dois relacionamentos, de tentar conciliar o que é impossível.

Manter uma vida dupla é desgastante e difícil, e, a medida que a segunda relação vai se solidificando, mais cobranças virão e mais expectativas serão criadas.

Nós mulheres pensamos e agimos de forma diferente. Não é que não exista traição pelo lado feminino, claro que há, mas a motivação talvez seja diferente, pela forma como encaramos o amor e o sexo.

Toda regra tem sua exceção, mas na maioria das vezes a motivação é a falta de atenção, a solidão mesmo estando casada ou namorando, é a carência afetiva.

Em geral a mulher que trai está envolvida emocionalmente com o outro, não é uma questão de oportunidade, é necessidade. A traição feminina é mal vista até mesmo pelas amigas, diferente da traição masculina que é vista como auto-afirmação.

O ser humano erra, é de sua natureza. Admitir o erro e recomeçar, perdoar é que são elas. Mas trair nunca é solução.

Mulher de 23 anos é morta a pedradas acusada de adultério na Somália

Ela foi executada por insurgentes islâmicos que controlam Kismayu.
Uma criança foi morta quando um parente tentou impedir a execução.
Da Reuters, em Kismayu, Somália.
Muçulmanos somalis mataram a pedradas uma mulher acusada de adultério, na primeira execução pública desse tipo em cerca de dois anos.
De acordo com testemunhas, a mulher, de 23 anos, foi morta na noite de segunda-feira (27), diante de centenas de pessoas em Kismayu, cidade portuária no sul da Somália, controlada desde agosto por insurgentes islâmicos.
Guardas abriram fogo quando um parente tentou correr até a mulher, e uma criança morreu, segundo as testemunhas.
"Uma mulher com véu verde e máscara preta foi trazida num carro quando esperávamos para assistir ao inclemente ato do apedrejamento", disse o morador Abdullahi Aden à Reuters.
"Disseram-nos que ela se submeteu à punição, embora pudéssemos vê-la gritando ao ter pernas e mãos amarradas. Um parente correu na direção dela, mas os militantes abriram fogo e mataram uma criança."
Os militantes islâmicos somalis não realizavam essas execuções desde a época em que controlavam a capital Mogadíscio e parte do sul do país, em 2006. Expulsos por forças etíopes e somalis, os militantes mantêm uma guerrilha que gradualmente retoma parte do território.
A exemplo do que fizeram em 2006 em Mogadíscio, os militantes que agora controlam Kismayu e arredores promovem a segurança, mas também impõem práticas fundamentalistas, como a proibição de diversões consideradas anti-islâmicas.
Parentes da mulher apedrejada em Kismayu, identificada como Asha Ibrahim Dhuhulow, dizem que ela foi tratada com injustiça.
"O apedrejamento foi totalmente não-religioso e ilógico", disse sua irmã, que pediu anonimato. "O Islã não executa uma mulher por adultério a não ser que quatro testemunhas e o homem com quem ela fez sexo sejam apresentados publicamente."
Líderes islâmicos na execução disseram que a mulher havia violado as leis religiosas e prometeram punir o guarda que baleou a criança.

Traição

A traição é um fenômeno difícil de mensurar, mas parece que as mulheres estão cada vez mais infiéis e que os homens infiéis começam a sentir-se culpados

Estudiosos classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos: a traição como desejo de novidade para vencer o tédio do casamento; a traição como afirmação da feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a síndrome de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre a infidelidade feminina), em que a insatisfação afetiva leva à busca de um amor romântico que não existe.

Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de maneira diferente. Nas pesquisas entre as respostas mais freqüentes dos homens estão: por se sentirem atraídos sexualmente e porque as circunstâncias lhes foram favoráveis. Poucas têm a ver com amor ou envolvimento afetivo. No caso das mulheres, os motivos mais citados foram decepção, desamor e raiva do parceiro.

Flagrante de adultério

Já são 43 anos investigando casos de traição. Maridos e mulheres infiéis que se cuidem: alguém pode estar de olho. Detetives nos anúncios de jornal prometem investigações rápidas e discretas. Antigamente – 20, 30 anos atrás – eram quase só casos de mulheres querendo saber se o marido traía. Hoje, quase 50% dos clientes são homens querendo saber se a mulher é infiel. E esses são, sem dúvida, os casos mais complicados.

"A mulher é difícil. Em uma semana de investigação eu pego o homem. A mulher, eu levo dois, três meses", diz a detetive particular Ângela Bekeredjian. "Acho que as mulheres são mais inteligentes".

Se as mulheres traem com mais competência, essa não é a única diferença entre os clientes.

"O homem chega mais retraído, por vergonha de se sentir traído. A mulher já chega falando mal do marido. Dizem: 'Aquele sem-vergonha' Tenho certeza de que ele me trai porque chega com batom no colarinho'", conta Ângela Bekeredjian.

A detetive particular mostra as imagens de uma das investigações mais recentes. Vinte anos atrás, seria um caso raro. O marido contratou Ângela para investigar a mulher, que estava num hotel-fazenda na beira da praia. Ela tinha dito para o marido que iria participar de um congresso no Nordeste, mas estava tendo um caso com um colega de trabalho. As câmeras dos detetives acompanhavam tudo.

"Nós estávamos por fora, em cima do muro e de longe. Naquele momento só os dois estavam lá dentro. Se ficássemos, dava para ver que estávamos investigando", diz Ângela Bekeredjian. As imagens foram gravadas no segundo dia de investigação.

Muitas vezes, a detetive tem que se envolver com a vítima do flagrante.

"Ela foi ao cabeleireiro fora do hotel. Eu fiz meu cabelo também. Foi quando comecei a pegar amizade com ela, porque o agente estava filmando. Ela não desconfiou de nada", conta Ângela Bekeredjian. "Era um congresso a dois. Ela inventou o congresso", diz a detetive particular.

Confirmada a traição, o cliente não quis saber de conversa e pediu a separação. Mas nem sempre o marido termina a história pacificamente.

"Às vezes, ele se torna violento. Tem muitos homens que têm amantes e não aceitam que a mulher traia. Depende da personalidade e do caráter de cada um. Alguns são violentos", conta Ângela Bekeredjian.

Não é o perfil do comerciante Renato, que estava casado há seis anos e continuava apaixonado pela mulher, mas começou a desconfiar que o contrário não era verdadeiro. "Eu me ausentei muito na época. Estava viajando muito e não parava em casa. Você nota que é o comportamento é diferente, as coisas começam a mudar", diz.

Renato resolveu contratar um detetive particular e descobriu. "A sensação não é agradável. Você tem a suspeita, mas nunca espera que seja real". E o pior é que o outro era um amigo dele. "É uma mistura de frustração com raiva. É uma bagunça".

Renato afirma que em seis anos de casamento nunca traiu a mulher. "A gente brinca de dizer 'pior que não'. Eu não tinha necessidade disso", garante.

Seria difícil esconder se não fosse verdade. Pelo menos é o que reza a velha filosofia de um detetive.

"Quando existe alguma coisa fora do casamento, parece que a gente sente. O ser humano muda. É a mesma coisa com a criança que ganha um brinquedo novo", compara Ângela Bekeredjian. Brincadeira que o detetive tem como missão estragar.

Um flagrante difícil. Um noivo desconfiado contratou a detetive 15 dias antes do casamento. Nas imagens mostradas por ela, o casal está num restaurante. A noiva já tinha avisado o noivo que a mãe dela não estava passando bem e que talvez tivesse que sair de repente.

"Aí, o telefone tocou, e ela foi atender", conta Ângela Bekeredjian.

A noiva sai da mesa.

"Ela volta e diz que vai ter que chamar um táxi. O táxi chega e ela entra", descreve Ângela.

Os detetives acompanham de motocicleta.

"Eles param num posto de gasolina. O taxista desce com ela e tira o emblema do carro. Eles entram na loja de conveniência. Eu fico perplexa de ver uma coisa dessas", diz a detetive diante do beijo da traição (foto).

Ela estava traindo o noivo com o taxista. Os detetives continuam filmando até que o casal vai para um motel. "Quer saber do final? Eu chamei o rapaz, e ele foi com a mãe ao motel. Eles fizeram o flagrante e cancelaram o casamento, claro”, conclui a detetive.

Ex-maridos entram na Justiça para receber indenizações por traições

Está escrito no Código Civil: no casamento, é dever de ambas as partes assistência ao companheiro, sustento e guarda dos filhos, respeito e consideração, além de - tchan tchan – fidelidade.

O que você faria se descobrisse que foi traído? E pior: que todo mundo ficou sabendo! Pois é. No Distrito Federal, um ex-marido ganhou na Justiça uma indenização por ter apanhado a mulher no flagra. O preço da traição? O Tribunal de Justiça do Distrito Federal definiu: R$ 7 mil. O juiz Sandoval Oliveira foi o relator da decisão.

Qualquer um que for traído pode entrar na Justiça?

“Não é o simples fato de ter sido traído. São as circunstâncias em que o fato aconteceu”, explica Sandoval Oliveira, juiz.

O fato, a traição, aconteceu em Planaltina, uma cidade próxima a Brasília. O ex-marido, que vamos chamar de E.R., recebeu um telefonema no trabalho: um amigo avisou que havia um ladrão no apartamento dele e que a mulher era mantida refém.

E.R. saiu correndo do trabalho, pediu ajuda ao porteiro e a vizinhos e invadiu o próprio apartamento. Quando entrou no quarto encontrou a ex-mulher com outro homem, os dois pelados, na cama do casal.

Nos autos dizem que ele se sentiu bastante constrangido e humilhado pelo fato de ter sido traído pela mulher na sua própria cama. Ele entrou na Justiça e conseguiu a separação.

“O adultério não é crime tipificado no Código Penal mais, já foi. Hoje não é. Mas a prova do adultério, se você conseguir provar ao juiz que houve o adultério, o juiz pode extinguir o casamento com base nisso”, explica Bernardo Moreira Garcia, diretor do Instituto Brasileiro Direito da Família.

Depois, o ex-marido pediu uma indenização por danos morais, alegando que a traição tinha acabado com a auto-estima dele. Na primeira instância, o juiz determinou o pagamento ficou em R$ 14 mil. Mas a esposa recorreu, dizendo que não havia provas do abalo psicológico do ex-marido. E alegou que ganhava pouco e por isso conseguiu reduzir o valor para R$ 7 mil.

“Sem dúvida foi um constrangimento e foi público, parece que foi com base nisso que se aplicou a pena por dano moral”, diz Bernardo Moreira.

A decisão desse caso foi baseada em dois processos parecidos. Ex-maridos ganharam indenização das ex-mulheres por terem sido traídos. Não houve o flagrante público, mas os enganados descobriram depois da separação que os filhos que tinham assumido durante o casamento, na verdade, eram de outro.

Um desses maridos ficou 20 anos achando que era pai dos filhos do amante. Ele ganhou R$ 200 mil de indenização, mas não quis gravar entrevista. O outro topou contar, porque entrou na Justiça sem revelar a identidade.

“Era de uma pessoa que se pode dizer recatada. Só que eu viajava muito”, diz ele.

Ele só desconfiou quando a ex-mulher pediu a separação 15 dias depois do nascimento da filha. “Tivemos que ir atrás de indícios, provas, mas o que realmente acertou foi o laudo do Dr. Emerson, o obstetra, que provou que entre os dias 17 de janeiro e 19 de janeiro havia sido feita a concepção e eu estava viajando nesse dia”, explica.

Quanto vale esta traição? “R$ 15 mil, mas o sofrimento não paga, não paga”, afirma o marido.

Até hoje nenhuma das mulheres condenadas pagou a indenização ou porque recorreu ou porque desobedeceu a Justiça. Procuradas, elas não quiseram dar entrevistas.

TV americana promove adultério no horário nobre, diz:

Los Angeles (EUA), 5 ago (EFE).- Um estudo denuncia que a indústria da TV americana promove o adultério e a promiscuidade nos programas de maior audiência, afirmou o Conselho de Pais para a Televisão (PTC, na sigla em inglês).
O relatório denuncia que as redes de TV quase não mostram cenas sexuais no contexto do casamento ou as representa como uma "carga", enquanto acentua atrativos de outros tipos de relações.
Os dados reunidos sobre conteúdos exibidos pelas principais redes dos EUA refletiram que as cenas de adultério superaram em uma proporção de dois para um as imagens íntimas de casais.
Além disso, o sexo sem casamento superou por quatro a um as relações sexuais matrimoniais.
"A TV sugere que muitos buscam minar o casamento ao tratá-lo de forma negativa, mas mais problemático que a glorificação do sexo extramatrimonial é a obsessão por ensinar comportamentos que há uma década teriam sido impróprios para a televisão", afirmou o presidente do PTC, Tim Winter.
Referências a situações sexuais que antes não apareciam em horário nobre, como relações grupais, de mudança de casal, pedofilia, necrofilia e fetichismo, se encontram agora na programação de forma abundante.
"Comportamentos que antes eram vistos como imorais ou socialmente destrutivos receberam sinal verde da indústria da TV. Recentes estudos mostram que as crianças são influenciadas por essas mensagens", assegurou Winter.
A pesquisa se baseou em horários de maior audiência das emissoras "ABC", "CBS", "FOX", "NBC" e "CW" durante quatro semanas no início da temporada 2007-2008 da TV, entre setembro e outubro do ano passado.
A "ABC" foi a rede com mais alusões a sexo no casamento, "embora a maior parte delas negativas", segundo menciona o relatório, que destaca que nesse mesmo canal o sexo sem casamento prévio apareceu em um contexto positivo.

Depoimentos de quem já foi traído (1,2 e3 ) :

1- Eu e Ana ficamos 14 anos juntos, cinco deles casados. Nossa vida sexual sempre foi muito quente, fazíamos planos para o futuro, tivemos uma filha, hoje com 6 anos, queríamos viajar e ter casa na praia. No quarto ano de casados, a mãe da Ana faleceu, ela ficou deprimida e comecei a incentivá-la a freqüentar uma academia. Alguns meses depois, comecei a achar que ela estava ansiosa demais para ir à ginástica e notei que as roupas que ela levava voltavam intocadas. Não fiz interrogatórios, mas fui à academia para conferir. A recepcionista não a via há tempos. Naquele dia, quando Ana estava de saída para a academia, perguntei o que ela ia fazer. Ela reafirmou que ia para a ginástica. Perguntei sobre a roupa e ela disse que costumava deixar as peças sujas na lavanderia e pegar as limpas. Ana percebeu que eu estava sacando alguma coisa e, na volta, inventou que seu professor ia tirar férias e ela ficaria um mês sem ir à academia. Mesmo com todos esses indícios, eu não queria acreditar. Ela passou 30 dias em casa e eu cheguei a esquecer a história. Mas, quando Ana resolveu voltar à ginástica, liguei para um amigo que é investigador de polícia e pela primeira vez contei meu drama para alguém. Ele seguiu a Ana e pouco tempo depois me ligou dizendo que ela tinha entrado em um motel. Peguei minha moto e saí de casa possesso. Fiquei escondido na saída do motel e, meia hora depois, eles apareceram. O amante dirigindo o meu carro e ela penteando o cabelo, ao lado. Não agüentei e saí correndo atrás pela estrada. Passou uma viatura e comecei a gritar para a polícia parar o carro. O policial deu uma fechada e eu larguei minha moto no chão. Ana saiu chorando. Mandei o cara desaparecer e comecei a xingá-la. Minha primeira reação foi me comparar. O amante dela era estranho, feio, mais baixo que ela. Fiquei me perguntando o que ele tinha que eu não tenho. Eu gritava que ele deveria ter um pintão. Ela ficou em choque, muda, com medo. Quando chegamos em casa, continuei gritando que ela era vagabunda, disse que ela tinha em casa um homem trabalhador, decente, que sempre valorizou a esposa -o que mais ela queria? Eu estava revoltado. Ana dizia que tinha errado, que eu não merecia aquilo. Peguei minha filha e fui embora para a casa da minha mãe. Ela se desesperou, me segurava para eu ficar, mas eu não queria que ela me tocasse. No mesmo dia, voltei para pegar algumas coisas em casa e conversamos melhor. Eu queria saber onde tinha falhado. Ela dizia que era ela quem tinha errado e que não era minha culpa. Desconfio que ela achou que eu fosse perdoar. Nunca pensei nessa hipótese, mas me separei amando a Ana. A princípio, movido por desejo de vingança, eu disse que ficaria com nossa filha, mas as duas sofreram muito com isso. Ana dizia que se mataria caso eu não devolvesse a criança e eu mudei de idéia. Não comentei com mais ninguém o que aconteceu e fiquei mal por um bom tempo, chorava pelos cantos. Eu nunca tinha traído a Ana. Levei meses para me reestruturar. Antes remontei todo o quebra-cabeça. Descobri que naquele período de 'férias da academia' eles estavam brigados e também que ele trabalhava com ela. Os dois moram juntos hoje. Após dois anos de separação, eu ainda queria que eles se danassem. Agora já passaram cinco anos. Não tenho mais ódio, virei a página, passou. A traição foi um trauma, fiquei um ano sem transar com ninguém. Estou namorando há seis meses, mas procuro não ser tão amável, não quero me frustrar. Se você é muito bonzinho, as mulheres pisam em cima. Me tornei inseguro e também desconfiado, coisa que nunca fui. Acho que, para o homem, a traição pesa mais. Se o cara é corno, ele se expõe ao ridículo, fica com a reputação lá embaixo. Mas sei que homens e mulheres traem. A tentação é a mesma para todo mundo."

Paulo, 35 anos, gerente de RH

2-

Conheci minha ex-mulher em Madri, na Espanha, em 1990. A gente se apaixonou e seis meses depois foi morar junto em Amsterdã, onde ela nasceu. Ficamos casados durante cinco anos. O começo foi ótimo, mas no final tudo ficou frouxo. Transávamos pouco. Nesse período tive um caso com uma menina, nada sério, nem chegamos a transar, só teve beijo. Minha mulher percebeu e contei tudo. Senti muita culpa e não soube esconder. Ela ficou muito brava, chorou, mas não quis se separar. Foi a primeira e única vez que eu a traí. Curiosamente, a relação melhorou, o sexo ficou ótimo, não brigávamos mais. Porém, logo depois ela começou a ficar distante. Aproveitei que ela viajou e fucei as suas coisas. Para minha surpresa, achei cartas de um cara e também dela, que ainda não tinham sido enviadas. Ela escreveu que tinha gostado muito da noite em que estiveram juntos -ficava claro que ainda não tinha rolado sexo, mas que ela gostaria de vê-lo novamente. Tive muita raiva. O fato de eu ter tido um caso antes não me importava, me senti injustiçado. Esperei dois dias até ela voltar de viagem e tivemos uma briga pesada. Falei que ela era uma grande mentirosa, nós dois fomos muito agressivos. Essa discussão foi um trauma na relação. Ela pediu desculpas, disse que me amava e que queria continuar. No mesmo dia fizemos as pazes, e eu a perdoei.
O relacionamento passou por altos e baixos durante alguns meses, até cair de novo no marasmo. Ela estava distante, nós morávamos na Europa e ela passou a ir sempre com uma amiga para Madri -viajar com amigos era normal entre a gente, mas senti algo estranho. Fiquei muito inseguro, comecei a pirar, a fuçar de novo as coisas dela. Foi um momento doentio, uma falta de confiança total e muito dolorosa. Cheguei a perguntar se ela estava a fim de alguém em Madri, ela negou. Quando começaram a chegar cartinhas da Espanha em casa, abri uma escondido e saquei que ela estava namorando alguém lá. Desta vez não deu para perdoar. Vi que ela não queria se separar até ter certeza do que sentia pelo outro cara. Foi muito egoísta, com a desculpa de não querer me machucar, acabou me ferindo muito mais. Não me isento de culpa, sei que em algumas brigas eu fui cruel com ela, ultrapassei o limite do respeito. Mas, no dia em que ela confirmou a traição, fiquei desesperado. Eu pensava: 'não é possível, ele deve ter um pintão'. Dá uma neura forte. Cheguei a perguntar como tinha sido o sexo, se ela tinha orgasmos. Ela disse que transar com ele era um pouco melhor, fiquei arrasado. Saí de casa, mas ficava planejando chegar na porta da casa dela enquanto eles estivessem transando e fazer um escândalo, também queria que ela soubesse quando eu saísse com outra mulher.
A relação acabou com muita mágoa, e depois eu me sentia inseguro, achava que não era bonito, que era ruim de papo e de cama. Tive vontade de morrer, passei muito mal, foi extremamente doloroso. Eu sentia vergonha de me abrir, mas falar com os amigos sobre isso me aliviava. Acho que infidelidade é mais difícil para o homem, a gente se sente triplamente traído: na cabeça, no coração e no sexo. Faz quatro anos que tudo aconteceu, mas ficaram seqüelas, me tornei cético em relação às mulheres. Eu me apaixonei de novo, tenho um namoro longo, mas não foi isso que me curou, e sim a passagem do tempo."
Antônio, 31 anos, arquiteto

3-


Camila foi a mulher com quem namorei mais tempo. Ficamos oito anos juntos. Tudo começou em 1991, tínhamos 19 anos. Eu me entreguei totalmente, não fui racional. No início, nossa relação era infantil, nós dois éramos possessivos. Confesso que eu a deixava sufocada. Ela também reclamava de tudo. Mas o sexo era ótimo e tinha amor.
No quarto ano de namoro, decidimos morar juntos. No sétimo, estávamos em crise. Foi nesse período que ela apareceu com uma nova amiga que tinha uma vida estável, apartamento, carro, enfim, tudo o que Camila me cobrava. Aquilo me incomodava, eu sentia ciúme. Nossa relação estava péssima, a gente nem se beijava mais. Eu saí de casa, mas continuamos namorando. Uma noite Camila me ligou, disse que me amava, que queria comprar alianças, casar. Dois dias depois, sugeriu que ficássemos um tempo separados. Disse que queria repensar algumas coisas e que eu não a deixava ter amigos. Em seguida, desapareceu. Eu pirei, ela não queria mais falar comigo e eu não entendia o motivo.
Encontrei o marido de uma amiga em comum e ele me contou que, dois anos antes, a Camila tinha tentado ficar com ele. E que agora estava com outra pessoa. Fiquei louco. Mas o pior foi descobrir que ela estava namorando a tal amiga inseparável. Meu mundo veio abaixo. É difícil imaginar que uma pessoa que conviveu comigo tanto tempo de repente se apaixona por uma mulher. Eu andava desconfiado, mas não era nada concreto. Quando tive certeza, deu uma dor imensa no coração, senti raiva, ódio mortal. Liguei na hora para ela, mas ela não estava. Fui para a casa, coloquei uma música e fiquei berrando, aos prantos. Me perguntava por que isso tinha de acontecer comigo. Chorei muito e, quando me senti mais aliviado, procurei uns amigos e contei tudo. Não me contive e telefonei para a casa da amante. Camila estava lá e mandou eu não me meter em sua vida. Eu falei para ela não procurar mais ninguém da minha família nem meus amigos e, movido por um sentimento de vingança, ameacei contar para sua avó que ela era lésbica.
Mas a família dela, que sempre foi muito careta, aceitou o romance das duas e eu me senti duplamente traído. O que me deixou mais bravo foi achar que ela arquitetou tudo friamente, sem consideração pelos meus sentimentos. Fiquei perdido, cada hora eu pensava numa coisa. Primeiro, 'planejava' a morte de Camila e de toda a sua família. Cheguei a pensar em chamar uns caras barras pesadas para dar uma surra em todos. Virei um animal, não conseguia raciocinar. Depois que essa loucura passou, não conseguia dormir nem comer direito, emagreci três quilos. No começo eu tinha vergonha de tocar nesse assunto, mas meu irmão me dizia para eu ter coragem. Meus amigos me ajudaram, nunca brincaram com isso. Em dois meses, apareceu uma oportunidade de mudar de cidade e dei graças a Deus, era uma maneira de recomeçar a vida. Eu precisava respirar.
Minhas relações com mulheres ficaram problemáticas e ainda hoje, dois anos depois, são complicadas. Demorei quase um ano para sentir tesão por outra pessoa e não tenho orgasmo se não estiver sentimentalmente envolvido. Ainda tenho mágoa. Hoje estou mais cauteloso e exigente. Sei exatamente os defeitos que posso aceitar em uma mulher e não tolero mentiras."

Rodrigo, 30 anos, fotógrafo


DEBATE

Debate que ‘rolou’ em um dos sites mais ‘bombados’, o Yahoo!
O tema tratado era traição. Veja com terminou:
[...]
E se é a mulher que trai? Perguntei a todos, se a relação ou o casamento acabariam se a traição fosse por parte da mulher. Alguns já viveram essa situação e respondem que não. Outros, como Um Cabra Safado respondem que sim. A primeira mulher, mãe dos filhos dele, teve de sair de casa, de mãos abanando, inclusive, sem os filhos.
A traição da mulher é uma das questões, que ainda separam muitos casais e põe fim em muitas relações. Alguns são capazes de conviver com isso por algum tempo, imaginando que vai acabar um dia. Outros preferem abrir mão desse código para não mergulhar na mentira e há os que não suportam uma única traição.
A verdade é que “todo mundo já deu e recebeu essa moeda”, como diz o Cigano Romântico. E o que se vê, é que a atitude permanece, doa a quem doer. Tanto por parte do homem, quanto da mulher. E não existe manual para saber como agir. Até porque a questão não é saber como agir, e sim, como lidar com esse sentimento.
Eles não gostam de ficar sozinhos. Por mais que a vida tenha apresentado suas dores na tela, pra todo mundo ver, eles não gostam de ficar sozinhos. No mínimo, vão ter uma namorada ou vão viver com alguém. Os homens, em sua grande maioria, preferem compartilhar sempre. Eles querem amar e ser amados, sinceramente. Eles querem ninho. Querem encontrar alguém com quem possam compartir todas as coisas da vida. Os prazeres. Os momentos difíceis. E aí, muitas mulheres dizem: “Ah imagina! Os prazeres, eles querem dividir, sim, mas os momentos ruins, não”.
E eles querem, sim, um amor sincero. Imaginar que os homens sempre querem dividir os prazeres e jogar para as mulheres as dificuldades é um dos estereótipos no qual muitas mulheres se baseiam, se firmam, acreditam que é verdade, já provaram e julgam todos os homens, por um ou dois ou três. Como mulher, mãe e autora, entendi que em tudo que fazemos ou com tudo aquilo que nos envolvemos, temos que aprender a cair e levantar, sempre.
Os homens num determinado estágio da vida querem das mulheres, um amor sincero. Uma boa relação de amizade. Um sexo bem feito, é claro. Tesão. Todo mundo quer isso. E o homem sabe quando uma mulher tem tesão nele, de verdade. Só que tesão significa cem por cento e amizade e companheirismo também significam cem por cento numa relação.
E quantas pessoas, estão de fato, dispostas a investir cem por cento delas mesmas numa relação? É por isso que homens e mulheres sentem medo de serem insuficientes. Essa é a grande questão. Eu sou suficiente pra essa mulher? Eu sou suficiente pra esse homem? Há os que dizem que essa “suficiência” não existe.

Mulher procura ajuda na internet .

Meu filho me pegou no FLAGRA !


Meu filho de 8 anos me pegou no flagra, no ato, com meu atual amante. Ele sabe que o papai é gay, conhece meu Amante mas eu nao queria que ele tivesse passado por isso. O que devo fazer? Levar ele no psicológo?


Me ajudem. Tô mal com isso.