quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Menino

A criação deste Blog foi uma proposta literária feita pelo professor Diêgo Alcântara, com objetivo de estimular a reflexão e a busca

de um novo ponto de vista em relação aos problemas corriqueiros.

Por sorteio em sala de aula, nossa equipe, composta por 12 componentes,tais eles identificados no final do blog, ficou encarregada de tratar do conto O Menino, de Lygia Fagundes Telles.

Sobre a autora:

Nome:
Lygia Fagundes Telles

Nascimento:
19/04/1923

Natural:
São Paulo - SP

Autora bastante premiada, membro da Academia Brasileira de Letras.

Ao escrever Venha Ver o Pôr do Sol, Lygia Fagundes Telles, provavelmente, inspirou-se na obra de Edgar Allan Poe, conduta bastante comum para os que se exercitam no gênero conto de mistério. O conto de Lygia remete a O Barril de Amontillado, de Poe.Ambos os contos têm a vingança como tema e estruturam-se por meio dos diálogos das personagens. O tipo de narrador, entretanto, é diferente, o da obra de Poe é autodiegético.

Conto O Menino


Sentou-se num tamborete, fincou os cotovelos nos joelhos, apoiou o queixo nas mãos e ficou olhando para a mãe. Agora ela escovava os cabelos muito louros e curtos, puxando-os para trás. E os anéis se estendiam molemente para em seguida voltarem a posição anterior, formando uma coroa de caracóis sobre a testa. Deixou a escova, apanhou um frasco de perfume, molhou as pontas dos dedos, passou-os nos lóbulos das orelhas, no vértice do decote e em seguida umedeceu um lencinho de rendas. Através do espelho olhou para o menino. Ele sorriu também, era linda, linda, linda! Em todo o bairro não havia uma moça tão linda assim.
─ Quantos anos você tem mamãe?
─ Ah, que pergunta! Acho que trinta ou trinta e um, por aí, meu amor, por aí. Quer se perfumar também?
─ Homem não bota perfume.
─ Homem, homem! ─ Ela inclinou-se para beijá-lo. ─ Você é um nenenzinho, ouviu bem? É o meu nenenzinho.
O menino afundou a cabeça no colo perfumado. Quando não havia ninguém olhando, achava maravilhoso ser afagado como uma criançinha. Mas era preciso mesmo que não houvesse ninguém por perto.
─ Agora vamos que a sessão começa às oito ─ Avisou ela, retocando apressadamente os lábios.
O menino deu um grito, montou no corrimão da escada e foi esperá-la embaixo. Da porta, ouviu-a dizer à empregada que avisasse ao doutor que tinha ido ao cinema.
Na rua, ele andava pisando forte, o queixo erguido, os olhos acesos. Tão bom sair de mãos dadas com a mãe. Melhor ainda quando o pai não ia junto porque assim ficava sendo o cavalheiro dela. Quando crescesse haveria de se casar com uma moça igual. Anita não servia que Anita era sardenta. Nem Maria Inês com aqueles dentes saltados. Tinha que ser igualzinha à mãe.
─ Você acha a Maria Inês bonita, mamãe?
─ É bonitinha, sim.
─ Ah! Tem dentão de elefante.
E o menino chutou um pedregulho. Não, tinha que ser assim como a mãe, igualzinha à mãe e com aquele perfume.
─ Como é o nome do seu perfume?
─ Vent vert. Por quê, filho? Você acha bom?
─ Vento verde.
Vento verde, vento verde. Era bonito, mas existia vento verde? Vento não tinha cor, só cheiro. Riu.
─ Posso te contar uma anedota, mãe? Posso?
─ Se for anedota limpa, pode.
─ Não é limpa não.
─ Então não quero saber.
─ Mas por quê, pô!?
─ Eu já disse que não quero que você diga Pô.
Ele chutou uma caixa de fósforos. Pisou-a em seguida.
─ Olha, mãe, a casa do Júlio...
Júlio conversava com alguns colegas no portão. O menino fez questão de cumprimentá-los em voz alta para que todos se voltassem e ficassem assim mudos, olhando. Vejam, esta é minha mãe! ─ Teve vontade de gritar-lhes. Nenhum de vocês tem uma mãe linda assim! E lembrou deliciado que a mãe de Júlio era grandalhona e sem graça, sempre de chinelo e consertando meia. Júlio devia estar agora roxo de inveja.
─ Ele é bom aluno? Esse Júlio?
─ Que nem eu.
─ Então não é.
O menino deu uma risadinha.
─ Que fita a gente vai ver?
─ Não sei, meu bem.
─ Você não viu no jornal? Se for fita de amor, eu não quero! Você não viu no jornal, hein, mamãe?
Ela não respondeu. Andava agora tão rapidamente que às vezes o menino precisava andar aos pulos para acompanhá-la. Quando chegaram à porta do cinema, ele arfava. Mas tinha no rosto uma vermelhidão feliz.
A sala de espera estava vazia. Ela comprou os ingressos e em seguida, como se tivesse perdido toda pressa, ficou tranqüilamente encostada a uma coluna, lendo o programa. O menino deu-lhe um puxão na saia.
─ Mãe, mas o que é que você está fazendo?! A sessão já começou, já entrou todo mundo, Pô!
Ela inclinou-se para ele. Falou num tom muito suave, mas os lábios se apertavam comprimindo as palavras e os olhos tinham aquela expressão que o menino conhecia muito bem, nunca se exaltava, nunca elevava a voz. Mas ele sabia que quando ela falava assim, nem súplicas nem lágrimas conseguia fazê-la voltar atrás.
─ Sei que já começou, mas não vamos entrar agora, ouviu? Não vamos entrar agora, espera.
O menino enfiou as mãos nos bolsos e enterrou o queixo no peito. Lançou à mãe um olhar sombrio. Por que é que não entravam logo? Tinham corrido feito dois loucos e agora aquela calma, espera. Espera o que, pô?!...
─ É que a gente já está atrasado, mãe.
─ vá ali no balcão comprar chocolate ─ Ordenou ela entregando-lhe uma nota nervosamente amarfanhada.
Ele atravessou a sala num andar arrastado, chutando as pontas de cigarro pela frente. Ora, chocolate. Quem é que quer chocolate? E se o enredo fosse de crime, quem é que ia entender chegando assim começado? Sem nenhum entusiasmo, pediu um tablete de chocolate. Vacilou um instante e pediu em seguida um tubo de drágeas de limão e um pacote de caramelos de leite, pronto, também gastava à beça. Recebeu o troco de cara fechada. Ouviu então os passos apressados da mãe que lhe estendeu a mão com impaciência: ─ Vamos, meus bem, vamos entrar.
Num salto, o menino pôs-se ao lado dela. Apertou-lhe a mão freneticamente.
─ Depressa que a fita já começou, não está ouvindo a música?
─ Na escuridão, ficaram um instante parados, envolvidos por um grupo de pessoas, algumas entrando, outras saindo. Foi quando ela resolveu.
─ Venha vindo atrás de mim.
Os olhos do menino devassavam a penumbra. Apontou para duas poltronas vazias.
─ Lá, mãezinha, lá tem duas, vamos lá!
Ela olhava para um lado, para outro e não se decidia.
─ Mãe, aqui tem mais duas, está vendo? Aqui não está bom? ─ Insistiu ele, puxado-a pelo braço e olhava aflito para a tela e olhava de novo para as poltronas vazias que apareciam aqui e ali como coágulos de sombra. ─ Lá tem mais duas, está vendo?
Ela adiantou-se até as primeiras filas e voltou em seguida até o meio do corredor. Vacilou ainda um momento. E decidiu-se. Impeliu-o suave, mas resolutamente.
─ Entre ai.
─ Licença? Licença?... ─Ele foi pedindo. Sentou-se na primeira poltrona desocupada que encontrou, ao lado de uma desocupada também. ─ Aqui, não é, mãe?
─ Não, meu bem, ali adiante ─ murmurou ela, fazendo-o levantar-se. Indicou os três lugares vagos quase no fim da fileira.
─ Lá é melhor.
Ele resmungou, pediu “Licença, licença?”, e deixou-se cair pesadamente no primeiro dos três lugares. Ela sentou-se em seguida.
─ Ih, é fita de amor, pô!
─ Quieto, sim?
O menino pôs-se na beirada da poltrona. Esticou o pescoço, olhou para a direita, para a esquerda, remexeu-se:
─ Essa bruta cabeçona ai na frente!
─ Quieto, já disse.
─ Mas é que não estou enxergando direito, mãe! Troca comigo que não estou enxergando!
Ela apertou-lhe o braço. Esse gesto ele conhecia bem e significava apenas: Não insista!
─ Mas, mãe...
Inclinando-se até ele, ela falou-lhe baixinho, naquele tom perigoso, meio entre os dentes e que era usando quando estava no auge, um tom tão macio que quem a ouvisse julgaria que ela Le fazia um elogio. Mas só ele sabia o que havia debaixo daquela maciez.
─ Não quero que mude de lugar, está me escutando? Não quero. E não insista mais.
Contendo-se para não dar um forte pontapé na poltrona da frente, Ele enrolou o pulôver como uma bola e sentou-se em cima. Gemeu. Mas por que aquilo tudo? Por que a mãe lhe falava daquele jeito, por quê? Não fizera nada de mal, só queria mudar de lugar, só isso...Não, desta vez ela não estava sendo um pouquinho camarada. Voltou-se então para lembrar-lhe de que estava chegando muita gente, se não mudasse de lugar imediatamente, depois não poderia mais porque aquele era o ultimo lugar vago que restava, “olha aí, mamãe, acho que aquele homem vem pra cá! “Veio. Veio sentou-se na poltrona vazia ao lado dela.
O menino gemeu, “Ai” meu Deus... ”Pronto. Agora é que não haveria mesmo nenhuma esperança. E aqueles dois enjoados lá na fita conversando comprida que não acabava mais, ela vestida de enfermeira, ele de soldado, mas por que o tipo não ia pra guerra, pô!... E a cabeçona da mulher na sua frente indo e vindo para esquerda, para direita, os cabelos armados a flutuarem na tela como teias monstruosas e uma aranha. Um punhado de fios formava um frouxo topete que chegava até o queixo da artista. O menino deu uma gargalhada.
─ Mãe, daqui eu vejo a mocinha de cavanhaque!
─ Não faça assim, filho, a fita é triste... Olha, presta atenção agora ele vai ter que fugir com outro nome... O padre vai arrumar o passaporte.
─ Mas por que ele não vai pra guerra duma vez?
─ Porque ele é contra a guerra, filho, ele não quer matar ninguém ─ sussurrou-lhe a mãe num tom meigo. Devia estar sorrindo e ele sorriu também, ah! Que bom, a mãe não estava mais nervosa, não estava mais nervosa! As coisas começavam a melhorar e para maior alegria, a mulher da poltrona da frente levantou-se e saiu. Diante dos seus olhos apareceu o retângulo inteiro da tela.
─ Agora sim! ─ disse baixinho, desembrulhando o tablete de chocolate. Meteu-o inteiro na boca tirou os caramelos do bolso para oferecê-los à mãe. Então viu: a mãe pequena e branca, muito branca, deslizou pelo braço da poltrona e pousou devagarinho nos joelhos do homem que acabara de chegar.
O menino continuou olhando, imóvel. Pasmado. Por que a mãe fazia aquilo? Por que a mãe fazia aquilo?!... Ficou olhando sem nenhum pensamento, sem nenhum gesto. Foi então que as mãos grandes e morenas do homem tomaram avidamente a mão pequena e branca. Apertaram-na com tanta força que pareciam esmagá-la.
O menino estremeceu. Sentiu o coração bater descompassado, bater como só batera naquele dia na fazenda quando teve de correr como louco, perseguido de perto por um touro. O susto ressecou-lhe a boca. O chocolate foi-se transformando numa massa viscosa e amarga. Engoliu-o com esforço, como se fosse uma bola de papel. Redondos e estáticos, os olhos cravaram-se na tela. Moviam-se as imagens sem sentido num sonho fragmentado. Os letreiros dançavam e se fundiam pesadamente, como chumbo derretido. Um bar esfumaçado, brigas,a fuga do moço de capa perseguido pela sereia da policia, mais brigas numa esquina, tiros. A mão pequena e branca a deslizar no escuro como um bicho. Torturas e gritos nos corredores paralelos da prisão, os homens. A mão pequena e branca. A fuga, os faróis na noite, os gritos, mais tiros, tiros. O carro derrapando sem freios. Tiros. Espantosamente nítido em meio do fervilhar dos sons e falas ─ e ele não queria, não queria ouvir! ─ o ciciar delicado dos dois num dialogo entre os dentes.
Antes de terminar a sessão ─, mas isso não acaba mais, não acaba? ─, ele sentiu, mais do que sentiu, adivinhou a mão pequena e branca desprender-se das mãos morenas. E do mesmo modo manso como avançara recuar deslizando pela poltrona e voltar a se unir à mãe que ficara descansando no regaço. Ali ficaram entrelaçadas e quietas como estiveram antes.
─ esta gostando, meu bem? ─ perguntou ela, inclinando-se para o menino.
Ele fez que sim com a cabeça, os olhos duramente fixos na cena final. Abriu a boca quando o moço também abriu a sua para beijar a enfermeira. Apertou os olhos enquanto durou o beijo. Então o homem levantou-se embuçado na mesma escuridão em que chegara. O menino retesou-se, os maxilares contraídos, tremulo. Fechou os punhos. “ Eu pulo no pescoço dele, eu esgano ele! “
O olhar desvairado estava agora nas espáduas largas interceptando a tela como um muro negro. Por um brevíssimo instante ficaram paradas na sua frente. Próximas, tão próximas. Sentiu a perna musculosa do homem roçar no seu joelho, esgueirando-se rápida. Aquele contato foi como ponta de um alfinete num balão de ar. O menino foi-se descontraindo. Encolheu-se murcho no fundo da poltrona e pendeu a cabeça para o peito.
Quando as luzes se acenderam, teve um olhar para a poltrona vazia. Olhou para a mãe. Ela sorria com aquela mesma expressão que tivera diante do espelho, enquanto se perfumava. Estava corada, brilhante.
─ Vamos, filhote?
Estremeceu quando a mãe dela pousou no seu ombro. Sentiu-lhe o perfume. E voltou depressa a cabeça para o outro lado, a cara pálida, a boca apertada como se fosse cuspir. Engoliu penosamente. De assalto, a mãe dela agarrou a sua. Sentiu-a mas, macia. Endureceu as pontas dos dedos, retesado, queria cravar as unhas naquela carne.
─ Ah, não quer mais andar de mãos dadas comigo?
Ele inclinara-se, demorando mais do que o necessário para dobrar a barra da calça rancheira.
─ É que não sou mais criança.
─ Ah, o nenenzinho cresceu? Cresceu? ─ Ela riu baixinho. Beijou-lhe o rosto. ─ Não anda mais de mão dada ?
O menino esfregou as pontas dos dedos na umidade dos beijos no, na orelha. Limpou as marcas com a mesma expressão com que limpava as mãos nos fundilhos da calça quando cortava as minhocas para o anzol.
Na caminhada de volta, ela falou sem parar, comentando excitada o enredo do filme. Ele respondia por monossílabo.
─ Mas que é que você tem filho? Ficou mudo...
─ Está me doendo o dente.
─ Outra vez? Quer dizer que fugiu do dentista? Você tinha hora ontem, não tinha?
─ Ele botou uma massa. Esta doendo ─ murmurou inclinando-se para apanhar uma folha seca. Triturou-a no fundo do bolso. E respirou abrindo a boca. ─ Como dói, pô.
─ Assim que chegarmos você toma uma aspirina. Mas não diga, por favor, essa palavrinha que detesto.
─ Dona Margarida.
─ Hum?
─ A mãe do Júlio.
Quando entraram na sala, o pai estava sentado na cadeira de balanço, lendo jornal. Como todas as noites, como todas as noites. O menino estacou na porta. A certeza de que alguma coisa terrível ia acontecer ia paralisou-o atônito, obumbrado. O olhar em pânico procurou as mãos do pai.
─ Então, meu amor, lendo o seu jornalzinho? ─ perguntou ela, beijando o homem na face. ─ Mas a luz não está muito fraca?
─ A lâmpada maior queimou, liguei essa por enquanto ─ disse ele, tomando a mãe da mulher. Beijou-a demoradamente. V Tudo bem?
─ Tudo bem.
O menino mordeu o lábio até sentir gosto de sangue na boca. Como nas outras noites, igual. Igual.
─ Então, filho? Gostou da fita? ─ perguntou o pai dobrando o jornal. Estendeu a mão ao menino e com a outra começou a acariciar o braço nu da mulher. ─ Pela sua cara, desconfio que não.
─ Gostei, sim.
─ Ah, confessa, filhote, você detestou, não foi? ─ contestou ela.
─ Nem eu entendi direito, uma complicação dos diabos, espionagem, guerra, máfia... Você não podia ter entendido.
─ Entendi. Entendi tudo ─ ele quis gritar e a voz não saiu num sopro tão débil que só ele ouviu.
─ E ainda com dor de dente! ─ acrescentou ela desprendendo-se do homem e subindo a escada. V Ah, já ia esquecendo a aspirina!
O menino voltou para a escada os olhos cheios de lagrimas.
─ Que é isso? ─ estranhou o pai. ─ Parece até que você viu assombração. Que foi?
O menino encarou-o demoradamente. Aquele era o pai. O pai. Os cabelos grisalhos. Os óculos pesados. O rosto feio e bom.
─ Pai... ─ murmurou, aproximando-se. E repetiu num fio de voz: ─ Pai...
─ Mas meu filho, que aconteceu? Vamos, diga!
─ Nada. Nada.
Fechou os olhos para prender as lágrimas. Envolveu o pai num apertado abraço.

Síntese do conto:

Este conto está inserido na obra Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Telles.
Neste conto,escrito em 1949, os fatos da história desenvolvem-se em um período de algumas horas – que englobam os preparativos para o passeio, a caminhada até o cinema, duas horas para a projeção do filme (tempo presumido de duração de uma sessão), e o retorno, a pé, para a casa das personagens. Com o título, imaginamos que a história irá se desenvolver em cima da infância de um garoto, mas, com o desfecho da história, percebe-se que não é bem assim. Apesar do menino ser o protagonista da história, o tema principal do conto não é infantil, sendo uma pista falsa o título.Os personagens principais, a mãe e o menino,não apresentam nome próprio.
No primeiro momento do conto o tom da narrativa é leve, solto, alegre,uma noite de entretenimento.
As personagens vão sendo construídas ao longo da história, por meio dos elementos internos e externos de cada uma, fornecidos pelo narrador. Sabe-se, por exemplo, que a mãe é uma mulher de trinta e poucos anos, bonita, vaidosa. Ela é caracterizada por elementos externos – “cabelos muito louros e curtos”, cujos anéis formam uma “coroa de caracóis sobre a testa” (p. 109). A figura da coroa está ligada à imagem de rainha; o louro dos cabelos reforça esta idéia.
O menino admira a mãe como se ela fosse uma rainha, figura detentora de força e poder. Para o menino, a mãe é perfeição em pessoa.
Levando-se em conta o papel destinado a mulher naquela época, ela pode ser considerada como uma rainha do lar.
A família apresentada por Lygia Fagundes Telles neste conto é constituída pelo pai – referido como “doutor” –, o “chefe de família” que passa o dia trabalhando e volta à noite para o lar; a mãe, jovem e bonita, a “rainha do lar”, e um único filho (o que era típico das famílias de classe média da época). Na casa trabalha uma empregada doméstica. O cenário é urbano.
Com relação ao menino, percebe-se que está radiante pelo passeio que fará com a mãe, a quem admira principalmente pela beleza física. Durante a caminhada até o cinema, o menino sente-se orgulhoso por estar ao lado da mãe, quer exibi-la aos colegas.A ambigüidade de sentimentos dele em relação à mãe fica explícita. O menino deseja a mãe como mulher e quer ser o homem dela, como fica evidente nos trechos em que é empregado o discurso indireto livre.
Ao chegar ao cinema, a mãe passa a se comportar de forma estranha, incompreensível.
O clima entre os dois muda, torna-se tenso. É interessante observar que o menino acredita conhecer a mãe muito bem, o que transparece nas expressões “os olhos tinham aquela expressão que o menino conhecia muito bem”; “Mas ele sabia que quando ela falava assim" .
Em certo momento,corre o impacto da descoberta.O menino ao descobrir 'tudo', sente vontade de enfrentá-lo. Ao chegar em casa, vê o pai, mais nada acontece!
O conto O Menino pode ser considerado uma narrativa de aprendizagem. O protagonista passa por uma experiência dolorosa, que faz com que perca a inocência típica da criança e, além disso, veja ruir a imagem da mãe, o ídolo que adorara até então. O início do amadurecimento é acompanhado pela necessidade de também aprender a usar as máscaras sociais que todos usam, no dia a dia: assim, o menino omite os acontecimentos, não os revela para o pai.Começa a haver uma identificação do menino com a figura paterna.
Conforme acenado, apesar do protagonista ser uma criança, a temática principal do conto é um tema adulto, ou seja, a traição, mais especificamente, o adultério feminino. É necessário ter em mente a época em que o conto O Menino foi escrito (1949).
Outro aspecto que deve ser destacado é que em O Menino não há julgamentos, nem castigos impostos à personagem adúltera. A mulher mantém um encontro clandestino, tendo o filho como testemunha e álibi, e volta para casa, para o casamento estável que lhe proporciona uma vida segura e confortável. A única coisa que precisa fazer é recolocar as máscaras de boa esposa, boa mãe, boa dona de casa, representar os papéis sociais que esperam dela.
No conto, Lygia faz uma crítica à hipocrisia da sociedade.
" Menino é um conto simples, que trata de um assunto corriqueiro. "

Adultério

Trair é violar a confiança produzindo conflitos morais e psicológicos. Trair significa descumprir com o compromisso assumido. Segundo a lei, trair é crime de deslealdade de um cidadão com sua pátria, mas socialmente falando, traição é sinônimo de adultério.

Mas será só isso? Não concordo. Existe traição entre pais e filhos, entre amigos, colegas de trabalho, sócios, entre empresas.

Porém nada é mais forte do que a traição do amado, o adultério. Pior ainda o julgamento quando é a mulher que trai.

Pesquisando, descobri que são vários os tipos e motivações que envolvem uma traição.

Infelizmente, para nós mulheres, os homens costumam cometê-las com mais freqüência do que pensamos.

Existe a traição ocasionada por um fato fortuito, sem envolvimento afetivo, ocasionado apenas pela oportunidade.

Nada vai representar na vida dele, e ele volta para você apaixonado como se nada tivesse acontecido.

E, na cabeça dele, nada aconteceu mesmo.

Há os que traem aqui e acolá, repetidamente, mas sempre voltam para suas mulheres. Na cabeça deles, desde que não se apaixonem não há o menor problema, é só mais uma “pulada de cerca”.

Grande reflexo de anos e anos de machismo e de mulheres donas de casa.

Mas, quando acontece o envolvimento emocional tudo fica mais difícil. Aí vem o conflito de querer manter os dois relacionamentos, de tentar conciliar o que é impossível.

Manter uma vida dupla é desgastante e difícil, e, a medida que a segunda relação vai se solidificando, mais cobranças virão e mais expectativas serão criadas.

Nós mulheres pensamos e agimos de forma diferente. Não é que não exista traição pelo lado feminino, claro que há, mas a motivação talvez seja diferente, pela forma como encaramos o amor e o sexo.

Toda regra tem sua exceção, mas na maioria das vezes a motivação é a falta de atenção, a solidão mesmo estando casada ou namorando, é a carência afetiva.

Em geral a mulher que trai está envolvida emocionalmente com o outro, não é uma questão de oportunidade, é necessidade. A traição feminina é mal vista até mesmo pelas amigas, diferente da traição masculina que é vista como auto-afirmação.

O ser humano erra, é de sua natureza. Admitir o erro e recomeçar, perdoar é que são elas. Mas trair nunca é solução.

Mulher de 23 anos é morta a pedradas acusada de adultério na Somália

Ela foi executada por insurgentes islâmicos que controlam Kismayu.
Uma criança foi morta quando um parente tentou impedir a execução.
Da Reuters, em Kismayu, Somália.
Muçulmanos somalis mataram a pedradas uma mulher acusada de adultério, na primeira execução pública desse tipo em cerca de dois anos.
De acordo com testemunhas, a mulher, de 23 anos, foi morta na noite de segunda-feira (27), diante de centenas de pessoas em Kismayu, cidade portuária no sul da Somália, controlada desde agosto por insurgentes islâmicos.
Guardas abriram fogo quando um parente tentou correr até a mulher, e uma criança morreu, segundo as testemunhas.
"Uma mulher com véu verde e máscara preta foi trazida num carro quando esperávamos para assistir ao inclemente ato do apedrejamento", disse o morador Abdullahi Aden à Reuters.
"Disseram-nos que ela se submeteu à punição, embora pudéssemos vê-la gritando ao ter pernas e mãos amarradas. Um parente correu na direção dela, mas os militantes abriram fogo e mataram uma criança."
Os militantes islâmicos somalis não realizavam essas execuções desde a época em que controlavam a capital Mogadíscio e parte do sul do país, em 2006. Expulsos por forças etíopes e somalis, os militantes mantêm uma guerrilha que gradualmente retoma parte do território.
A exemplo do que fizeram em 2006 em Mogadíscio, os militantes que agora controlam Kismayu e arredores promovem a segurança, mas também impõem práticas fundamentalistas, como a proibição de diversões consideradas anti-islâmicas.
Parentes da mulher apedrejada em Kismayu, identificada como Asha Ibrahim Dhuhulow, dizem que ela foi tratada com injustiça.
"O apedrejamento foi totalmente não-religioso e ilógico", disse sua irmã, que pediu anonimato. "O Islã não executa uma mulher por adultério a não ser que quatro testemunhas e o homem com quem ela fez sexo sejam apresentados publicamente."
Líderes islâmicos na execução disseram que a mulher havia violado as leis religiosas e prometeram punir o guarda que baleou a criança.

Traição

A traição é um fenômeno difícil de mensurar, mas parece que as mulheres estão cada vez mais infiéis e que os homens infiéis começam a sentir-se culpados

Estudiosos classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos: a traição como desejo de novidade para vencer o tédio do casamento; a traição como afirmação da feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a síndrome de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre a infidelidade feminina), em que a insatisfação afetiva leva à busca de um amor romântico que não existe.

Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de maneira diferente. Nas pesquisas entre as respostas mais freqüentes dos homens estão: por se sentirem atraídos sexualmente e porque as circunstâncias lhes foram favoráveis. Poucas têm a ver com amor ou envolvimento afetivo. No caso das mulheres, os motivos mais citados foram decepção, desamor e raiva do parceiro.